O ser humano tem medo do desconhecido, esse tema, tratado por filósofos, sociólogos, psicólogos, já teve diversas representações nas artes, pinturas, livros e filmes. Podemos associar o desconhecido como a falta de “luz”. Quando um objeto não é “iluminado”, todo tipo de contato com ele é uma descoberta. Não nos restrinjamos apenas aos que os olhos veem. O desconhecido por ser explorado pelas diversas funções de cada um dos sentidos.
Um temor que provavelmente caminha junto com a raça humana desde sua aurora é o medo do escuro, justamente por não saber qual caminho ir.
Lights Out ou
Quando as luzes se apagam trabalha justamente com essa questão. O roteiro do filme é simples, poucos personagens, mas há um trabalho dedicado para desenvolvê-los.
O filme inicialmente era um curta que ganhou destaque na internet até a Warner comprar os diretos e produzir o longa. O diretor é o mesmo do curta e isso contribui para que o filme mantenha um mesmo sentido e estética do longa, só que mais bem trabalhado e com mais recursos.
Talvez o que mais valha a pena destacar é o trabalho da direção de fotografia e de direção. O filme não é exagerado, ele é bem coerente dentro de sua iluminação, trabalhando bem com a iluminação ou com a falta dela. O trabalho com as sombras é fundamental para o criar o clima do filme e ele passa essa sensação o tempo inteiro, principalmente com as cenas iluminadas com velas. Em relação a direção o filme é muito bem decupado e tem um trabalho muito bom com foco e desfoque e movimentação de câmera, dois pontos de destaque nessa decupagem é um trabalho com camadas de ação muito competente que hora foca em um personagem no primeiro plano e, sem corte, foca no personagem que está o segundo plano, o segundo ponto de destaque é uma transição muito bem-feita em um falso plano sequência, não só uma transição, mas um flashback.
O grande receio desse filme era que ele não fosse bem desenvolvido, pois sua história original vinha de um curta-metragem e talvez faltasse algo para desenvolver o longa ou o fizesse de maneira insatisfatória, como diversos curtas que viraram longas. Porém isso não se concretiza, o roteiro do filme é bom, por ter poucos personagens criamos logo de cara empatia por todos, além disso, o longa possui um número muito significativo de jump scare e te prende e dá medo mais pelo que não é mostrado do que pelo que se mostra, trabalhando assim com o constante medo do escuro, não só das personagens quanto dos espectadores. O filme não cansa e tem, talvez, um dos melhores finais de filme de terror que já vi.
Atual Vice-presidente da Aceccine e sócio da Abraccine. Mestrando em Comunicação. Bacharel em Cinema e formado em Letras Apaixonado por cinema, literatura, histórias em quadrinhos, doramas e animes. Ama os filmes do Bruce Lee, do Martin Scorsese e do Sergio Leone e gosta de cinema latino-americano e asiático. Escreve sobre jogos, cinema, quadrinhos e animes. Considera The Last of Us e Ocarina of Time os melhores jogos já feitos e acredita que a vida seria muito melhor ao som de uma trilha musical de Ennio Morricone ou de Nobuo Uematsu.