Esta sexta temporada de Game of Thrones com certeza não foi a melhor da série até agora, mas certamente conseguiu manter o nível altíssimo que o show vem apresentando desde sua estreia em 2011.
No início da temporada muito se falou de que nesta a série finalmente ultrapassaria os fatos ocorridos nos cinco livros escritos até então por George R. R. Martin, o que não é bem verdade, mas o fato é que realmente boa parte das histórias de alguns núcleos ou personagens ainda não tinham seus arcos fechados nos livros o que provavelmente gerou alguns momentos de enrolação na primeira metade da temporada.
No entanto, esta season nos presentou com alguns dos momentos mais memoráveis e emocionantes da série até agora. Talvez o primeiro deles, para mim, tenha sido o reencontro, após tanto tempo, de dois Starks, Sansa e Jon (além do primeiro encontro entre Tormund e Brienne, o melhor ship da temporada). O encontro entre Sansa e Jon só não é maior do que quando, no penúltimo episódio, Winterfell é (finalmente) retomada.
E por falar em Sansa, que arco de personagem, né não? Pra quem achava que a força da temporada estaria com a Stark mais nova (achei o treinamento da Arya em Bravos bem mais ou menos), levou na cara a transformação de uma personagem apática e mimada, quase sempre passiva, sendo levada por outros quase sem entender o que estava acontecendo para uma mulher forte e decidida a não suportar mais nenhum sofrimento sem luta e, melhor ainda, tomando atitudes inteligentes e confrontando seus maiores temores.
Mas mulheres fortes não faltaram nesta temporada. O arco de Daenerys me pareceu muito melhor desenvolvido nesta do que na temporada anterior onde parecia que estávamos assistindo a uma outra série quando o foco se voltava para Meeren, tudo bem que ela precisava daquilo para “aprender” a ser rainha além de reunir parte do exército que a ajudaria a conquistar Westeros, mas faltava um elo que a unisse ao núcleo do outro continente e acho que a chegada de Tyrion como seu conselheiro fez muitíssimo bem este papel, além, é claro, de trazer um pouco de leveza para a corte, acho ótimo a sequência em que os dois estão bebendo e contando piadas junto com o sempre sisudo Verme Cinzento e Missandei.
Mas o pódio de força suprema da série continua sendo de Cersei, tanto em questão de personagem quanto de atuação, Lena Headey, novamente merece aplausos de pé. Creio que o arco de Porto Real sendo tomada aos poucos pelos Pardais tenha sido muito bem construído para findar em seu ato maior de vingança, explodir o Septo de Baelor no último episódio. É incrível o olhar que Jaime dá a ela ao perceber que sua irmã fez o que o Rei Louco, assassinado por ele, planejava fazer com a cidade em sua loucura, demonstrando o principal marco do afastamento dos dois que já havia se iniciado há algum tempo. (O pódio de Cersei talvez só tenha sido ameaçado pela maravilhosa Lyanna Mormont, impossível não se apaixonar por essa pessoinha).
A temporada encarregou-se também de dar uma maior ênfase em uma de minhas casas preferidas de Westeros, os Greyjoy (sendo isso uma das coisas que eles haviam deixado de lado nas temporadas passadas, mas que é bastante aproveitado ainda dos livros). Mas, ainda assim, achei que o arco dos piratas envolvendo a disputa pelo trono das Ilhas de Ferro poderia ter sido muito melhor apresentado, pois mesmo que possa parecer tão sem importância diante de tantas reviravoltas pelo continente (e do outro lado do Mar Estreito também), sabemos que cada peça movimentada neste jogo pode causar tremendas mudanças.
No Norte, além da Muralha, Bran segue sua jornada para aprender a usar seu dom, e a ideia de fazê-lo voltar no tempo através das memórias das árvores com rostos caiu como uma luva. Por intermédio de seu treinamento pudemos visitar o passado de Westeros, especialmente do jovem Ned Stark, e passamos a ter informações que de outra forma seria impossível obtermos, sendo a mais bombástica a confirmação da teoria sobre a verdadeira paternidade de Jon Snow. Mas foi também por conta dos poderes de Bran que tivemos outro dos momentos mais emocionantes da série, a morte de Hodor e toda a explicação para o fato de apenas conseguir pronunciar as palavras que passaram a ser seu nome.
Sobre os vilões da temporada, além dos Pardais e da breve aparição dos Caminhantes Brancos além da Muralha, tivemos a ascensão e queda do detestável Ramsay Bolton. Nossa, quem imaginaria que alguém tão repugnante quanto Joffrey (e talvez mais ainda) pudesse surgir nessa série? Ainda bem que, como o infame Lannister, Ramsay teve o fim merecido, o que nos leva ao melhor episódio da temporada e a um dos melhores da série.
A Batalha dos Bastardos, que episódio inacreditável. O assisti duas vezes apenas par comprovar que estava vendo ali um outro nível de produção para TV, tanto narrativa quanto tecnicamente falando. Desde a “negociação” de Daenerys com os Mestres de Escravos, mostrando que agora tem total controle sobre os seus três dragões, até a batalha do final. Não apenas a batalha em si, mas todo o caminho levado até chegar ao momento real de embate entre os dois exércitos. De um lado, os Bolton e seus aliados e, do outro, visivelmente em menor número, o lado formado por selvagens de além da Muralha e alguns aliados que Davos, Sansa e Jon conseguiram reunir a muito custo.
Os diálogos entre Sansa e Jon (que são todos muito bons desde seu reencontro até o fim da temporada) e entre Davos e Thormund são construídos belissimamente bem para dar o clima de incerteza que paira sobre seu lado na futura batalha e o encontro entre os dois lados no dia anterior foi muito importante para aumentar ainda mais o ódio de Jon ao confirmar que seu irmão mais novo estaria realmente prisioneiro dos Bolton (o que sabemos que às vezes pode ser pior do que estar morto). Mas a batalha em si é extraordinária, extremamente bem pensada em seu desenvolvimento, desde a criação de um clima de angústia com a cavalgada de Jon tentando ir ao encontro de Rickon para salvá-lo das flechas de Ramsay, que claramente sente que aquela batalha será apenas mais uma de suas brincadeiras sádicas, depois a investida insana de Jon após ver o irmão ser morto a poucos metros de distância (obviamente parte dos planos de Ramsay), além do plano lindíssimo do encontro entre as duas cavalarias bem no momento em que Jon estava pronto para morrer (de novo). A partir daí temos uma batalha de uma crueza impressionante, dando destaque sempre a Jon, Thormund e o Gigante Wun Wun, que, diga-se de passagem, deve ser lembrado para sempre como um herói em Winterfell.
Muito mais ainda há pra ser falado sobre esta temporada, obviamente deixei muita coisa de fora, seja por jugar menos relevante a meu ver ou por esquecimento mesmo, mas o que importa é que o Inverno finalmente chegou e com ele a reta final desta maravilha que aprendemos a amar tão intensamente, e já que ainda não temos um novo livro só nos resta teorizar sobre o futuro deste imenso tabuleiro.
Cineasta e Historiador. Membro da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema). É viciado em listas, roer as unhas e em assistir mais filmes e séries do que parece ser possível. Tem mais projetos do que tem tempo para concretizá-los. Não curte filmes de dança, mas ama Dirty Dancing. Apaixonado por faroestes, filmes de gângster e distopias.