X-Men: Apocalipse – O terceiro é sempre pior

Esse texto contém spoilers.
“Pelo menos concordamos que o terceiro filme é sempre o pior”, comenta com os amigos a jovem Jean Grey, vivida pela talentosa Sophie Turner, ao sair de uma sessão de O Retorno de Jedi em uma das cenas de X-Men Apocalipse. O que pode ter sido uma alfinetada de Bryan Singer, para o diretor do terceiro filme da antiga trilogia, X-Men: O Confronto Final (2006), Brett Ratner, acabou saindo pela culatra e servindo também de previsão do que aconteceria com o próprio longa-metragem a que estamos assistindo.
Singer retorna mais uma vez ao universo que criou em 2000 e ele vem bastante auto-referente, com trama repetitiva, roteiro preguiçoso, CGI (mal feito) excessivo, sequências inteiras desnecessárias, destaques forçados em certos personagens e um fazer cinema que parece estagnado na década passada. Para quem, pode-se dizer, abriu a porta para toda essa nova leva de filmes de herói, a franquia dos filhos do átomo ainda está incapaz de competir com os grandes.
Mas, me adianto. O filme tem sim os seus acertos. Dessa nova trilogia o mais inegável é, com certeza, o elenco principal.
Mcvoy nos entrega um Xavier carismático e espirituoso que nos dá um background, no mínimo, interessante para o personagem que aprendemos a respeitar e confiar na trilogia anterior. Fassbender apresenta o que se espera dele, apesar das questões de Magneto choverem no molhado, sua entrega ao papel não decepciona. Ambos carregam com muita maestria o legado dos interpretes anteriores. A química dos dois também é absurda, não devendo nada à Patrick e Ian.
O Mercúrio pode não ter nada a ver com o Mercúrio dos quadrinhos, mas é sem dúvida o melhor personagem da nova franquia. Seu carisma sem igual rouba a cena toda vez que entra em tela. O Mercúrio de Peters continua sendo o maior “cala a boca” da história dos filmes de herói. Fica apenas o desejo de que parem de se apoiar no que deu certo anteriormente e consigam trazer novas sacadas baseadas no poder do velocista.
Oscar Isaac, excelente ator, fez o que pôde debaixo dos quilos da caracterização de Apocalipse, um vilão mais do mesmo cuja imponência se apresenta somente na cena de abertura e que falta no resto do filme. A impressão que dá é que Apocalipse é um vilão que poderia ter sido bem melhor trabalhado, se os heróis já estivessem estabelecidos. Escolheram um vilão que poderia dar muito certo para um momento errado e o resultado é que Singer não consegue nem elaborar ou aprofundar os muito personagens apresentados nem transpor pra tela a complexidade de um vilão como Apocalipse que poderia causar rachaduras nas relações que já conhecemos mas que, ao invés disso, só se manifesta através de muito CGI e muita destruição genérica.
A maior força do filme está, por incrível que pareça, no núcleo de jovens mutantes do Instituto Xavier. Ciclope (Tye Sheridan), Jean Grey (Sophie Turner), Noturno (Kodi Smit-McPhee) demonstram uma boa química entre si, revigorando seus personagens de maneira satisfatória. É uma pena que não se pode dizer o mesmo de Jubileu (Lana Condor), mal aproveitada no corte final do filme.
Aliás, outros personagens partilham da mesma sina de Jubileu: Fera (Nicholas Hoult) convenientemente tem sucesso no uso do soro e assim não assume sua verdadeira forma em boa parte do filme, mas continua fracassando em superar seu interesse amoroso por Mística. Psylocke (Olivia Munn), Tempestade (Alexandra Shipp) e Anjo (Ben Hardy) são personagens superficiais, deixando um gosto amargo na boca do espectador pois o visual das duas primeiras está muito fiel aos quadrinhos. Moira (Rose Byrne) está tão notavelmente sem propósito na trama que muitas vezes é ridículo quando aparece em tela, principalmente quando vestida com roupas de combate, estando ali apenas para dar um fim a um assunto mal resolvido do professor X. (Dá vontade, inclusive, de ver um filme que fosse só sobre isso, de tão bem que McVoy e Byrne ficam juntos.)
 
Mas, nenhum dos personagens está tão fora de lugar quanto Mística (Jennifer Lawrence), claramente numa tentativa de fazer mais dinheiro em cima do nome da atriz, um destaque desproporcional e absolutamente desnecessário é dado a personagem e, pior que isso, não de uma maneira sutil e agradável, forçado mesmo. É como ver um filme da franquia Jogos Vorazes com uma roupagem diferente. Se a trilogia anterior podia ser chamada de Wolverine e seus amigos, a nova pode muito bem ser chamada de Mística e seus dois amores. Não deixa de ser coerente com o que nos foi apresentado no primeiro filme da nova trilogia, First Class, mas ao invés de nos apresentar algo novo, continua sendo a mesma trama dos filmes anteriores, um conflito batido e que já deixou de ser interessante. O mesmo pode ser dito do foco na relação entre Erik e Charles.
E o Wolverine?
Bom, dessa vez a participação especial de Hugh Jackman foi uma sequência inteira. Só que tão desnecessária e problemática de modo geral e por tantos motivos que é assombroso que alguém tenha deixado entrar na versão final do filme. Além de desperdiçar um dos arcos mais importantes, senão o mais importante, do Carcaju, a sequência nos apresenta, por longos minutos desconfortáveis um Wolverine selvagem diante de uma Jean de, no máximo, 17 anos, tentando “domá-lo”, por assim dizer…O fato de ser Jean Grey torna tudo tão errado que fica difícil colocar em palavras.
Sem falar que ter no mesmo filme Wolverine e Jubileu e não colocar os dois juntos em momento nenhum deveria ser considerado crime. Outro grande desperdício.
O filme é divertido? Bastante. As batalhas são emocionantes? Algumas são. A sequência de ação do Wolverine enquanto Arma-X é uma das melhores representações da violência do Wolverine até agora. A melhor cena de luta em equipe ainda está em X-Men – Dias de Um Futuro Esquecido. Mas, X-Men Apocalipse também tem seus bons momentos de pancadaria, não ficando muito atrás nesse quesito.
 
O problema, de modo geral, é que X-Men continua sendo um filme ok, desses que passam a tarde na televisão em dia de domingo e que você não se importa em perder uma cena ou duas enquanto almoça com a família. Se você nem procura nem espera nada mais do que isso (e não há nada de errado nessa postura), massa. Mas, se você pretende assistir alguma coisa com aquele “algo a mais”, melhor procurar em outro lugar. Os mutantes entretém, mas ainda estão sob o efeito da telepatia de Xavier, parados no tempo.