O Grande Herói

O Grande Herói não é um filme sobre heróis.
Eu não sou exatamente o que se poderia chamar de um grande fã do gênero “filmes de guerra”, talvez mais por ter assistido poucos filmes desse tipo do que por realmente desgostar deles. Mas provavelmente meu temor para com eles seja por saber que este é um gênero genuinamente estadunidense (o que me contradiz no que diz respeito ao meu amor por westerns). Filmes como Falcão Negro em Perigo (Ridley Scott, 2001), Zona Verde (Paul Greengrass, 2010), Pearl Harbor (Michael Bay, 2001), A Hora Mais Escura (Kathryn Bigelow, 2012) não são péssimos filmes, pelo menos tecnicamente falando (tá, Pearl Harbor é triste), mas trazem consigo essa carga nacionalista do Herói de Guerra Americano ou do antiterrorismo exacerbado criando uma imagem exagerada tanto dos protagonistas (americanos) quanto dos antagonistas (talibãs/vietcongs/japas/Osamas). Obviamente sei que esses exageros são típicos do cinema clássico hollywoodiano, mas eles se tornam mais visíveis quando a proposta é a de um filme “baseado em fatos reais”, o que é o caso da grande maioria desses filmes.
O Grande Herói é mais um desses casos. O filme, dirigido por Peter Berg e baseado no livro de Marcus Luttrell de 2007, conta a história do fracasso de uma missão americana em solo afegão (Operação Red Wings), onde alguns poucos soldados deveriam se aproximar dos arredores de um pequeno vilarejo e eliminar um líder talibã. Já nos primeiros minutos de filme, logo após uma sequência de imagens de soldados americanos em treinamento, nos é mostrado que apenas um soldado é resgatado vivo da missão e quem é este soldado, o que eu não diria que é um erro, mas sim um risco, levando em consideração que o espectador ficará mais tranquilo sabendo que apesar de qualquer perigo aquele soldado não irá morrer em batalha. Sendo assim, vemos que não é interesse do roteiro nos dar um final surpreendente para a história e sim apresentar como tudo aconteceu (então não reclame de spoiler quando estiver lendo). Após isso o filme volta cinco dias atrás para nos apresentar que ações levaram à cena deste sobrevivente sendo resgatado.
O primeiro ato, segue uma premissa fundamental neste gênero, apresentar-nos e nos fazer gostar dos soldados, para que temamos sua morte quando estes estiverem em meio a tiros e explosões (muitas explosões se o diretor for o Michael Bay) e ver rostos conhecidos como o de Ben Foster, Mark Wahlberg e Emile Hirsch (três bons atores desta geração à propósito) e o novato Taylor Kitsch facilita a identificação e a afeição do espectador para com estes soldados. este é o momento de nos mostrar seus passados, sua saudade das famílias que os esperam em solo americano e um momento de diversão em uma peculiar cerimônia de apresentação de um novato. O ápice desta apresentação de personagens é quando, já no início da missão, na floresta perto do vilarejo, o grupo é visto por três criadores de cabras, um já idoso, um jovem e um menino, que são rapidamente capturados pelos americanos que passam a debater quais as opções viáveis para sair daquela situação sem frustar a missão.
A partir daí seguem-se as melhores sequências do filme, e que são seu maior êxito. A troca de tiros entre os quatro soldados e dezenas de talibãs nos traz momentos realmente impressionantes e bem construídos, sem em nenhum momento deixar o espectador confuso quanto ao que está acontecendo como é comum em recentes filmes de robôs gigantes alienígenas. Os sons da batalha são belamente colocados nos momentos certos e realmente nos fazem acreditar naquela pequena guerra, como em alguns momentos em que falas importantes são cortadas bruscamente por uma explosão mais próxima ou um tiro de raspão. O slow motion utilizado pelo diretor em dois momentos quando os americanos são obrigados a rolar penhasco abaixo causam uma visão impactante no espectador ao ver cabeças e costelas batendo em pedras pontiagudas e a quase certeza da morte de alguns em consequência disto.
A última parte do filme já nos traz o último americano sobrevivente da batalha sendo resgatado por moradores de um outro vilarejo próximo, para onde o levam. O tratamento dado ao americano gravemente ferido e mais ainda o laço rapidamente formado entre este e um garotinho afegão nos soam imediatamente inexplicáveis e inacreditáveis já que todos os moradores colocam-se em grande perigo ao promover tal ajuda.
O Grande Herói, assim, torna-se um título equivocado em minha opinião, sendo mais coerente o original Lone Survivor (ao pé da letra, algo como “sobrevivente solitário”), pois um sobrevivente não necessariamente é um herói. Aliás, para mim, o título de Herói, apenas deve ser usado em caso de histórias de fantasia, mitológicas ou quadrinhos. A transformação de um personagem “real” em herói nada mais é do que a criação de um símbolo maniqueísta e de exaltação (no caso exaltação do exército americano e suas intenções em solo afegão), o que é o que mais me incomoda em filmes de guerra.
Ps: A explicação para a ajuda dada pelos moradores do vilarejo ao soldado americano é resumidamente explicada alguns minutos antes dos créditos finais (mas o laço tão rapidamente formado entre o americano e o garotinho continua inacreditável).
Ps²: Nem todo filme de Guerra é tão ruim, listo alguns exemplos de bons filmes desta temática (obviamente filmes que eu já assisti e que envolvem combates de guerras mais recentes, ou seja, guerras medievais não contam):
dos que eu ainda não assisti, mas que são ditos clássico do gênero: