Blue Jasmine (2013) é um filme sobre um mau contemporâneo.
O novo filme de Woddy Allen nos traz novamente, e como quase sempre, mais uma história contraditoriamente comum e ao mesmo tempo curiosa. E quem viu a história de Jasmine (Cate Blanchett) certamente concordará comigo quando digo que existem muitas “Jasmines” por aí. Não apenas uma mulher que acreditou em um homem e viveu uma vida irreal de riquezas e sonhos aprendendo a acostumar-se com as maiores e mais cobiçadas regalias que uma dama da alta sociedade novaiorquina pode desejar. Não apenas uma mulher que viu toda sua bela vida ir por água abaixo em um “injusto” golpe do destino. Não são essas características tão peculiares de Jasmine que vemos comumente nas pessoas e às vezes até em nós mesmos, mas sim a incrível capacidade humana de mentir para si mesmo.
E esse é o maior problema na vida da protagonista mais desagradável que já vi em um filme de Woody Allen. Desagradável em um bom sentido, se é que existe a possibilidade, pois isso apenas nos mostra o quanto Cate Blanchett entendeu e conseguiu nos fazer acreditar de forma magistral quem era esta mulher e o adjetivo que mais me passou pela cabeça enquanto via o filme foi inevitavelmente “fútil”.
Mas voltando ao problema de Jasmine, mentir para si mesmo parece ser algo cada vez mais comum nos últimos tempos. Cada vez mais fechamos os olhos ou viramos o rosto para coisas que queremos acreditar que seja de outra forma. Pois é, Jasmine leva isso a níveis psicóticos ao tentar sustentar uma “verdade” mesmo quando a verdade de verdade é totalmente revelada.
E novamente Woddy Allen é fascinante ao nos contar uma história. Usando de flashbacks para nos apresentar as origens dos problemas da protagonista o diretor faz uso de cores mais quentes no passado glorioso e tons azuis e cinzentos na melancolia do momento que Jasmine está passando ao ser obrigada a mudar-se para a simplicidade da casa (e por que não dizer da vida) de sua irmã, Ginger (Sally Hawkins), que aliás não poderia ser mais diferente da irmã, o que poderia ser justificado pelo fato de as duas serem adotadas, isto podendo ser rapidamente desmentido por quem algum dia já dividiu espaço com um irmão ou irmã, a singularidade genética jamais foi fator fundamental para semelhança de personalidade nem mesmo entre gêmeos.
E mais uma vez vemos Jasmine mentindo pra si ao julgar a irmã como uma fracassada e como ela mesma diz “com um péssimo gosto para homens” (aproveitando aqui pra comentar as belas atuações de Bobby Cannavale e Andrew Dice Clay, respectivamente namorado e ex-marido de Ginger), não percebendo que, apesar de toda trivialidade, a vida da irmã é muitas vezes mais feliz que a sua própria com todas as suas bolsas Louis Vuitton e seus sapados Prada.
PS: É impossível não comentar a participação de Louis C.K. que além de ser um dos comediantes mais sagazes que conheço tem se mostrado um ator à altura de um filme de Woody Allen.
Cineasta e Historiador. Membro da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema). É viciado em listas, roer as unhas e em assistir mais filmes e séries do que parece ser possível. Tem mais projetos do que tem tempo para concretizá-los. Não curte filmes de dança, mas ama Dirty Dancing. Apaixonado por faroestes, filmes de gângster e distopias.