#Alive – A linha tênue entre desistir e sobreviver

Filmes de apocalipse zumbi não são novidades no cinema, aliás, após o surgimento da série fenômeno The Walking Dead (2010 -), o gênero ganhou sobrevida tanto na TV quanto no cinema, mas a fórmula com certeza sofreu um desgaste bem grande nesta década. Entretanto, ainda assim, existem alguns exemplares que conseguem se destacar, e o peculiar é que esse alento vem da Ásia, com a Coréia do Sul sempre apresentando bons filmes e séries dentro deste gênero. Um dos mais aclamados dessa recente safra foi Invasão Zumbi (Busanhaeng, 2016), que inclusive ganhou uma continuação acelerada este ano, porém, é no recente #Alive (#Saraitda, 2020) que encontramos uma narrativa bastante interessante de acompanhar.

A primeira coisa que você precisa saber é que este longa é um drama sobre o isolamento, como uma pessoa comum que tem acesso a tudo e de repente têm sua vida mudada depois que ocorre um surto viral que transforma as pessoas em zumbis descontrolados começa a se alastrar pela vizinhança onde mora. Esta pessoa é o jovem Oh Joon-woo (Ah-In Yoo), que começa a perceber que há algo errado quando houve gritos desesperados vindo do complexo de apartamentos onde mora, neste momento é onde seu mundo desmorona e ele começa a perceber que as pessoas estão se transformando em criaturas descontroladas comedoras de carne, sua alternativa, então, é se isolar no próprio apartamento a espera de um resgate.

#Alive é um filme sobre isolamento, mas também é um filme acerca da sobrevivência e, após nos apresentar este surto viral, a narrativa começa a focar em como Oh Joon vai lidar com esta situação. Todo o primeiro ato é ele tentando fazer o mínimo de barulho possível, tentando se comunicar com os pais, tentando economizar comida, ao mesmo tempo que em observa o movimento pela sacada dos zumbis. Esta primeira parte é bastante cadenciada e informativa, além de situar bem o expectador e criar um drama em cima da paranoia e ansiedade do personagem, afetando inclusive seu psicológico em alguns momentos.

Um dos pontos que diferencia este longa dos outros filmes de zumbi, é que por se passar ao longo dos primeiros dias do surto, o personagem ainda tem muito acesso a tecnologia e o roteiro usa isso de uma forma esperta e não ignora como alguns filmes com esta mesma premissa normalmente fazem, seja através da TV, para informar mais sobre essas pessoas infectadas, seja pelo celular que algumas vezes tem sinal, ou até mesmo drones em um determinado ponto da narrativa. Tudo isso para aumentar a dramaticidade, ou para trazer alguma informação útil, ou para até mesmo aumentar a sensação de perigo.

A segunda metade do filme me deixou mais satisfeito, pois o surgimento da jovem Kim Yoo-bin (Shin-Hye Park) traz uma nova dinâmica mais interessante para história e faz a narrativa andar mais. A trama dirigida pelo novato il Cho não é imune a problemas de ritmo, mas consegue intercalar bem momentos mais calmos, com outros de puro suspense e terror, com um ataque constante dos zumbis ao longo da trama, deixando o filme menos monótono. 

É claro que #Alive não é livre dos clichês característicos dos filmes com a temática de zumbi, então temos aqui muitas conveniências de roteiro que acabam por deixar alguns momentos que poderiam surpreender, apenas previsíveis. Por outro lado, não há como negar que o roteiro se esforça para trazer alguma novidade, a cena da “escalada” é uma delas, sem dar muito spoiler, esta sequência me pegou muito de surpresa, ela é inesperada e vale cada segundo da tensão que conseguem entregar aqui.

O mais interessante de #Alive é que o longa transita em muitos gêneros diferente além daquele que o define, mas fica clara a intenção da direção de focar na temática da luta pela sobrevivência, usando o isolamento como base para fazer os personagens encontrarem mecanismos de seguir em frente mesmo após presenciarem várias tragédias de formas diferentes, seja através de uma ligação, seja acompanhando o mundo em que vive se deteriorando aos poucos do lado fora causando uma terrível sensação de impotência e solidão.

De uma forma geral, #Alive ganha pontos por tentar sair um pouco fora da curva das premissas sobre apocalipse zumbi, não chega a ser perfeito, mas se esforça para entregar algo diferente e em alguns momentos consegue, mas não se preocupe, sangue, ordas de zumbis (bem diferente daqueles que vemos nas versões ocidentais), tensão constante, personagens fazendo burradas e boas reviravoltas estão presentes na narrativa para quem é fã dessas características do gênero. O filme tem boas atuações, o que ajuda a manter a história interessante, sem falar que o roteiro os coloca no limite, fazendo com que tenham que escolher constantemente entre sucumbir ao medo da morte e a esperança de esperar por um resgaste que pode nunca chegar. Entre persistir e sobreviver, #Alive consegue prender a atenção e se tornar um bom exemplar dentro da temática apocalipse zumbi.


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